quarta-feira, outubro 25, 2006

Portas direitas

Tenho a dizer que ontem foi o último o episódio da novela SS, que poderia, efectivamente ter durado mais 10 dias, se eu tivesse deixado as coisas nas mãos deles. Fui directamente à sede na Afonso Costa, onde me dirigi à senhora da "triagem":
- "Recebi esta carta que pede que entregue a prova de cessação de actividade..."
- "É a senha D." - gentilmente, entrega-me a dita. 80 números. Andei a fazer tempo pelas redondezas, sempre cá e lá, não fosse o número passar. 1h. Não foi mau. Sou atendida por um senhor que tira uma cópia da carta que recebi deles, agrafa-a à prova de cessação de actividade e coloca as duas folhas no arquivo do lado direito da sua secretária cheia de papelada. Já está? Esta é a parte em que me vou embora?
- "Desculpe, só mais uma questão. É que eu já fiz este pedido há 15 dias e já passou o prazo de 10 dias úteis. Vou ter de esperar mais 10 dias? Comé quié?"
Pega novamente nos meus papéis que tinha acabado de carimbar e assinar:
- "A senhora sai para a rua e vai ali ter com o meu colega da porta que fica do lado direito e diz-lhe que vai ao 7º andar."
Depois de me enganar no lado direito - os lados direito e esquerdo dependem smp da pespectiva :P - e ter falado com a pessoa errada que não estava a entender o que eu queria - "Vamos começar do princípio...", dizia ele, lá me fiz entender e ele lá me mandou para o lado direito certo (o meu "outro lado direito" como eu costumo dizer às minhas alunas quando trocam um pé com o outro). O senhor errado lá me mandou para o sítio certo. O que ia eu lá fazer? Não sabia. Tinha apenas duas folhas na mão para mostrar. Para onde o elevador me estava a levar? Para o 7º andar. Abre-se a porta. Um papelinho na parede diz "independentes" com uma seta para o lado direito. desta vez não há como enganar. é só seguir a seta. Eu, "independente"? Tem piada! Como é que uma pessoa que ganha uns trocos e é obrigada a descontar quase a pele por conta dos recibos verdes consegue ser independente?? entro numa sala de espera onde está um jovem sentado e duas portas fechadas. E agora? Senhas? Não! Com quem é suposto falar qdo estão duas portas fechadas? O rapaz explica-me que tenho de bater à porta que tem o último algarismo do meu número da SS. Reparo então nos algarismos que estão ao lado das portas sem qualquer referência à sua utilidade. A minha porta é a "direita". Bato. Nada. Um papel diz para bater e aguardar. Aguardo. Nisto, sai uma senhora da porta esquerda que entrega um papel ao amigo que me ajudou e volta para dentro. Ele vai-se embora. Sai outro senhor da porta esquerda. E a direita? "- Sabe se é essa a sua porta?" "- Sim." "- Já bateu?" "-Já." "- Deixe-me ver o seu número... (mostro-lho) Por acaso, é mesmo essa porta. Bata outra vez." A fazer charme. Este senhor estava com vontade de me ajudar... Mas estava na porta direita errada! E volta para dentro. Bati novamente. Finalmente, sai uma senhora. Recebe os meus papéis e volta para dentro. A porta fecha-se. Espero. Espero. Será que ela vai voltar? Ou era mesmo só para entregar os papéis? Não, se ela não disse nada, deve ser para esperar. Espero. E esperei bem. Estavam efectivamente a tratar da minha declaração, a qual a senhora me veio entregar. "- Agora tem de ir à tesouraria carimbar. É a porta do lado direito." Muitas portas têm eles!! Por que não fazer tudo no mesmo sítio? Saí do edifício e fui para o lado direito certo. Lá me puseram o bendito selo branco no documento, sem o qual o abençoado papel não teria qualquer valor! Bolas! Respiro fundo. Antes que um raio destruisse qualquer pedaço daquele papel, fui entregá-lo a quem mo pediu, com a esperança de que valha realmente alguma coisa. Depois de ter passado por 4 repartições da SS, de ter perdido 3 dias nas mesmas e ter esperado 14 em casa, já era com tempo!

Uma questão permanece: por que não me mandaram imediatamente para o 7º andar que até vinha referido na carta? não era eu que me ia pôr a bater à porta de todos os 7ºs andares de Lisboa! Não. Tinha de passar pela senhora da triagem que não viu a referência na carta ao 7º andar. Pelo senhor da senha D. Que não ligou ao que dizia na carta. E, só depois de refilar e insistir, e com muita sorte, o senhor da senha D teve uma luz e me mandou para o 7º. Há que complicar!! Aliás, em Roma, não se pode ser inglês, por isso...