quinta-feira, fevereiro 26, 2009

Indiscriminação (O Perigo da)

O comboio das estações leva-me até à Primavera. No caminho vejo a chuva a cair, as árvores despidas, os agasalhos, as botas, os ombros junto às orelhas, as marrecas que não deixam penetrar o frio... Os cinzas, os castanhos e os escuros predominam, os vultos diluem-se no quadro da estação invernosa... Chora a céu, contraem-se as entranhas, entristece-se a natureza... Só as árvores têm a coragem de se despir... como que a pedir...

A poucos minutos da estação, o sol começa a espreitar. Às vezes penso que a luz ao fundo do túnel é apenas sol... que aquece os corações deprimidos...

Saio na Primavera e vejo vida, renovação, criação, cor... Alguma razão teriam os romanos ao iniciar o ano em Março... Avisam-me de que só posso permanecer 3 meses, porque, logo depois, o comboio segue para o Verão. Percebi que a Primavera só é possível graças ao Inverno... Como a bonança depois da tempestade...

No Verão, é o calor, a loucura, a mania da natureza... Mergulha-se na vida em pleno na esperança de encontrar a plenitude na vida...

Se os ciclos da Natureza se traduzissem em ciclos internos nas nossas vidas, para mim, a Primavera seria a Esperança, o Verão a Bonança, o Outono o Balanço e a Reflexão e o Inverno a Depressão. Estações que passam por nós e em nós, que nos diluimos no universo da vida.

O que acontecerá se o Verão deixar de ser Verão e o Inverno deixar de ser Inverno?
O que acontecerá se a bonança e a depressão se manifestarem esporadicamente, sem sentido, pelas nossas vidas? E se a esperança desaparecer? E o espaço para reflectir?

Chove, faz sol, desaparece o sol, chove. Ainda dizem que está tudo louco!

Se calhar...

1 Comments:

At 26/2/09 20:40, Blogger Diogo Rugeiro said...

o primeiro paragrafo dava um bom poema ;)

 

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